Guia (não tão) prático de como inscrever sua cerveja em um concurso

Guia (não tão) prático de como inscrever sua cerveja em um concurso

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Panelas antigas do Fred. Foto: Arquivo pessoal

Sou homebrewer desde 2008, uma época obscura onde pra se fazer cerveja em casa precisava de uma boa dose de MacGyverismo (pros mais novos, MacGyver era um cara de um seriado chamado “Profissão Perigo” onde tudo que esse mestre precisava para resolver as mais diversas situações eram itens do cotidiano como moedas, barras de chocolate, chiclete e grampos de cabelo). Coincidentemente foi o ano do 1º Mestre Cervejeiro Eisenbahn que consagrou Leonardo Botto com sua Dama do Lago.

Desde então tenho a vontade de me inscrever no concurso, mas por um motivo ou outro eu sempre ficava sabendo depois de encerrados os prazos de inscrição. Ano passado o concurso foi moldado pra se transformar em um Reality Show e agora parece que a divulgação está muito mais difundida por isso, esse que vos escreve consegue então ficar sabendo do concurso dentro do prazo de inscrição, YEY!

Beleza, e agora, como prosseguir?

Dica número 1: LEIAM O REGULAMENTO. Sabe aqueles contratos de aplicativos que a gente sempre clica em confirmar sem ler nenhuma página? Então, normalmente eles entregam sua alma ao diabo e você nem tá sabendo. A preguiça nos faz pular esses textos chatos no modo automático, mas quando se trata de concurso cervejeiro essa preguiça pode lhe desqualificar facilmente! Olha só:

O estilo escolhido pro Mestre Cervejeiro 2018 foi o Berliner Weisse. Cerveja típica alemã com um caráter ácido bem acentuado. Existem várias formas de se acidificar uma cerveja: Bactérias, malte acidificado, sour mash, inclusão de ácido láctico/cítrico na receita… Porém lá nas letrinhas miúdas do regulamento tem os seguintes dizeres:

3.4.2. A acidificação do mosto deve ser realizada por via bacteriana para posterior fidedigna reprodução.

3.4.3 Não será permitida a utilização do fermento Brettanomyces. Amostras contendo o referido componente serão, imediatamente, desclassificadas.

Então olha só a cilada: Não posso usar só malte, não posso introduzir ácido e não posso usar a Brett. O mosto deve ser acidificado com bactérias e não pode ser Brettanomyces. Complicado né? Não leu, sua cerveja padeceu.

Dica número 2: PESQUISEM O REGULAMENTO. Oi? Como assim? Pois é, depois de você ter lido até de trás pra frente o regulamento e ter decorado ele igual a tabuada, é hora de estudar sobre ele. Outro concurso no qual resolvi me inscrever recentemente foi o Concurso Homebrew 2018 do Slow Brew juntamente com o Lamas. Regras da receita: Independente da base de estilo, necessita ser uma Fruit Beer utilizando frutas brasileiras. Eis que descubro que em 2017 um dos 5 finalistas foi desqualificado por utilizar na receita Graviola. Apesar de ser bem difundida e cultivada no Brasil, essa fruta tem sua origem nas Antilhas. Aí estou eu todo serelepe e pimpão criando minha receita usando Manga achando que tava tudo certo, mas só pra dar aquele alívio na alma fui pesquisar sobre a fruta e descobri que apesar de diversas espécies de manga serem exclusivas do Brasil, as primeiras mudas vieram da Índia e Filipinas. Ou seja, não pode! Lá vou eu criar outra receita do zero usando outras frutas.

Dica número 3: LEIAM O REGULAMENTO. Já falei pra lerem o regulamento? A coisa é realmente complexa, pessoal coloca diversas cláusulas que se não forem seguidas invalida a inscrição. Olha só outro caso que aconteceu durante a minha inscrição pra Eisenbahn:

2.17. Embalagem das amostras: (i) 08 (oito) garrafas de 600 ml cada, contendo apenas etiqueta ou adesivo com o número do CPF do Candidato, sem qualquer outra identificação/rótulo de marcas nas garrafas ou tampas

Ou seja, não pode usar garrafa padrão inglês nem a famosa de Weiss (elas tem 500 ml). Não pode usar aquela tampinha bonitinha com os ingredientes da cerveja desenhados nela. Não pode usar garrafa de cerveja de boteco (a maioria delas tem inscrições em alto-relevo). Durante meu envase usei algumas garrafas reaproveitadas de Baden Baden. Quando estou enchendo a segunda ou terceira garrafa noto um pequeno detalhe, essas garrafas têm o nome da marca em alto-relevo, assim como as cervejas de bar. Ainda bem que percebi isso antes de engarrafar a leva toda e pude separar essas garrafas. Imagina se não me atento a esse detalhe e mando mesmo assim?

Dica número 4: Saiba exatamente o que você fará e confie no seu taco. Essa não tem a ver com o regulamento em si mas diz muito a respeito dos prazos de inscrição. Quando soltam o regulamento já é tarde demais, os prazos são muito apertados. A Eisenbahn nos deu dois meses pra inscrição, isso contando a chegada da garrafa até o endereço deles. Agora faz as contas aqui com o tio: Tempo pra criar a receita teórica, listar e comprar os ingredientes (que muitas vezes estão em falta no nosso fornecedor mais próximo ou é uma fruta de estações específicas por exemplo), tempo de brassagem, maturação, tempo aleatório de entrega do nosso ilustríssimo Correio… A conta não bate. Dois meses é pouco.

Então não temos tempo pra vacilar, não dá pra brincar de químico e sair testando receitas e métodos novos. O jeito é confiar naquela famosa frase “menos é mais” e fazer aquilo que temos confiança pra produzir de olhos fechados, porque qualquer erro não temos tempo de fazer outra leva.

Resumindo: Fazer cerveja em casa é um hobby muito gostoso e desestressante mas a partir do momento em que você pensa em investir nos campeonatos, saiba que o processo todo pode ser muito desgastante mentalmente. Atenção a todos os detalhes é a palavra chave aqui e também ponderar se vale a pena ou não passar por todo esse processo.

Eu particularmente gostei muito pois gosto de tentar superar desafios. E põe desafio nisso! Mas lembre-se que o desgaste todo pode estragar aquele amor pelo hobby, então é bom estar preparado!

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