Como ser sommelier além do copo

Como ser sommelier além do copo

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Serviço atento. Foto: Rogerio Volgarine

Ontem foi comemorado o dia do sommelier. Já vinha pensando em um texto para compartilhar sobre o tema, mas com a vida agitada as vezes é difícil, não consegui parar e falar sobre o que vinha pensando. Mas, acompanhei muitas postagens sobre o dia nas redes sociais e ficou claro que muita gente tinha algum discurso a fazer. Com orgulho, com piada ou com ambos.

Nem sempre é fácil ter orgulho do que se faz. Mas ser sommelier acabou sendo um status que muita gente buscou. Não importa na verdade se a pessoa só gosta de beber melhor. Não me importa se ela gosta de servir e quis se aprimorar. Não vem ao caso se a pessoa mudou de ramo e de vida para seguir carreira. Crescemos muito como profissionais nos últimos anos.

(Serviço em evento de degustação com cardápio molecular, Cerveja Noma Pontus. Foto: Rogério Volgarine)

Foi em 2010 que os primeiros cursos de especialização nomeados “Sommelier de Cervejas” chegaram ao Brasil. Cito a cerveja porque foi meu caminho. Os sommeliers de vinhos já estavam aí a bastante tempo. Temos os também cachaciers que usufruem de ser sommeliers, brasileiros especialistas em cachaça. Somos especialistas em bebidas. Pode procurar que a origem é antiga, uma profissão medieval. Assegurávamos que nada seria envenenado. Olha a coragem que precisava ter. Hoje fugimos de diacetil, corremos de acético e fazemos caretas com os enxofres. Novos tempos na profissão. Antes eles tinham lança. Hoje no máximo temos um metálico. Nos basta estudar. Provar.

Antigamente as bebidas eram feitas de forma rudimentar. Imagina o azedume que grande parte das bebidas deviam ter? Mal refrigeradas, sem conhecimento sobre microbiologia! Bons tempos esses de sommelier que vivemos. Temos mesmo é que comemorar. Ser sommelier é buscar a evolução não só na bebida, mas no consumidor. É passar conhecimento da cultura cervejeira como um telefone sem fio. Mas com o auxílio do Instagram, do Stories e claro Facebooks e grupos de Whatsapp ajudam muito. Já viu como acompanhamos o mercado atual?

O sommelier moderno vai mapear os gostos dos consumidores da sua região. Vai entender as texturas que o público curte. Apresentar a esses curiosos a possibilidade da acidez. Vamos desvendar os aromas cítricos. Fazer um pormenor do que seriam as frutas vermelhas. Apreciar o mais sutil defumado. Transformar líquido em verso. Explicar a levedura. Prosa em poesia. Assim, o sommelier é o responsável por encantar o mundo. Aumentar o marketing share do micro e pequeno mercado artesanal. Fazer com que consumidores da cervejinha possam encarar o fato como um prazer gastronômico.

(Serviço em evento de degustação com cardápio molecular, Cerveja Morimoto Soba Ale. Foto: Rogério Volgarine)

Em tempos de Master Chef, muita gente não cozinha em casa, mas quer comer bem nos restaurantes. Muita gente não quer fazer cerveja em casa, mas quer abrir uma bebida incrível. Em cada “tsssss” que a garrafa fizer estaremos ali para encarar o produto 30 dias depois que ele começou a ser feito.

Fiquei pensando então que queria comemorar sim. Tentar mudar a cultura cervejeira de um país cervejeiro é um desafio. Tentar enfrentar um consumo responsável. Mostrar que a cerveja pode ser evolução constante e não só tecnicamente, mas como cultura, habito, melhor e mais consciente. O que isso significa em um país como o nosso? Entretenimento e alento para um povo. Manter a tradição. Por isso estamos aqui a tanto tempo. Compartilhe seu conhecimento. Faça as pessoas se encantarem. Esse é o nosso papel.

Ser sommelier além do copo é não só pensar em consumir a cerveja, mas pensar ela com um todo. Não gourmetize a profissão. Este mercado tem sede de crescer e precisa de união para engrandecer o paladar do mercado.

Saúde.

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